sábado, agosto 15, 2009

la ventana

Abrir portas, janelas, portões é tarefa boa.
Descer

rar trancas e abrir ferrolhos também. O esforço, porém, só é válido, e valido, quando a saída é para a rua. A porta para dentro de casa, a janela virada para o muro, não são porta nem janela, mas armário, que não serve para nada, e nada mesmo, além de amontoar. E olhe que não falo em amor toar, fazer versos e cantar amor. Não é isso. É amontoar, juntar entulho, sabe? Atravancar, colecionar inutilidades.
Juancito Calderón, menino rechonchudo, vizinho de janela (e não de porta) de Nina, não fazia cerimônia. Com seis anos, ninguém se ocupa com palavras eufêmicas ou censura e Juancito era da regra e não da exceção.
O pequeno Juan não tinha armários. Tudo nele era janelas. Sem constrangimento, atirava na cara de nina qualquer comentário que ouvia em casa a respeito da moça. Vez ou outra, dirigia-se a ela:
"Mi papá he dicho que eres mujer de la vida! La vida es tuya o tú eres de ella? Yo también quiero ser de la vida.", gritava-lhe janela afora.
Nina, com verdadeiro pudor, enrubescia. Ah! Juancito só tinha janelas.