Envolvo teu presente em papel colorido. Junto, num embrulho cheio de cores, tudo que antes já mandei nos tons de cinza e preto de outrora. No pacote estão o que, de fato, para ti era e aquilo que apenas parcialmente era teu. Está o enredo riscado, rasgado e reescrito, além do diálogo mudo que se fez presente quando, ausentes tu e eu, cresceu o silêncio.
Vão, no mesmo volume, as palavras desmedidas e as milimetricamente pensadas, as perguntas, respostas, reperguntas e desrespostas. É tudo presente, não só porque está, de algum modo, no presente do indicativo, mas porque indica lembranças à sua maneira vividas, agora adornadas e transformadas em regalo.
O tempo presente é o que ofereço, pois. É este hoje, em todas as suas limitações, o que te envio. Se é verdade o carpe diem, na sua compreensão de que o presente, o agora, é, em si mesmo um presente, uma dádiva, está comigo toda a razão de querer embrulhá-lo num papel estampado.
Não deixaria jamais de mandar também algumas canções, e aqui estão elas, enlaçadas numa fita e postas no pacote que te preparo. Canções nem tristes, nem alegres, mas maduras, no ponto de serem degustadas. Acresci este pequeno feixe de melodias para que pudesse o pacote ganhar a leveza que delas é própria.
Ainda coloquei no embrulho a presença não sentida, as vozes ocultadas, as frases omitidas, os sorrisos não vistos. Não esqueci de colocar aqui também o mistério que já não assusta. Tampouco me olvidei do que restou incompreendido e do que, de tão evidente, buscou-se calar.
E, porque ainda há algum espaço, envio, ademais, a espera, este caquético e paciente exercício, sem deixar de remeter vinho, cachaça e muita embriaguez, enfim.
Pontual ou já tardio, aí está o presente, cheio de ontem e até, talvez, de amanhã. O embrulho que envio é carpe diem, é realidade, é certeza de que viver o presente, seja o momento ou o conteúdo do pacote, qualquer deles ou mesmo ambos, é boa escolha.