Repara na folha
que o vento carrega.
Ela vai, tão natural.
Olha a folha, olha
então te sossega
Tu és bem assim, bem igual.
Descia as escadas, dobrava à esquerda e seguia até o fim da rua. Alcançava a 15 de Maio, subia a Afonso Reis, num trajeto total de exatos sete minutos.
Com as pernas que já caminhavam com vontade própria, tamanho o hábito, às 17h fazia o percurso inverso. Em casa, tirava os sapatos, ligava a TV no programa de entrevistas diário, comia qualquer improviso e, às 21h, já era pedra na cama.
Às sextas, o happy hour era com Rita e Ângela, ambas no auge dos trinta e no ponto alto da desilusão. Mas Mônica não.
Para ela, havia três coisas que lhe eram realmente caras: bacon, o disco da Blitz de 1982 e sua bolsa Chanel que adquiriu após um ano e dois meses de economia. No mais, nada.
Não lembrava de ter se apaixonado, exceto pelo professor de Contabilidade Pública, durante a faculdade. Foi amor platônico, naturalmente, que mal chegou a ser descoberto por ela mesma. Divulgada a primeira nota da disciplina no semestre, o amor regrediu ao grau zero, como sua pontuação no exame e, felizmente, a moça voltou à rotina.
Adaptava-se, dizia, enquanto as amigas, entre goles de chope e filés com fritas, sonhavam com um amor um pouco mais consistente que a espuma daquela bebida.
Chorava uma vez ao ano, no máximo, cortando cebola, talvez, nada com muitos sentimentos.
O fato é que havia se adaptado e, se algo saía do lugar, adequava-se mais uma vez. Não importava a insipidez que o mundo ganhava assim. Da mesma maneira, irrelevante se essa sua contínua adaptação a furtava da felicidade que, bem ou mal, também é um desequilíbrio do cotidiano. O bom é que estava segura na sua vida tranquila de produto do meio, nas delícias do comodismo irrefletido.
Toda essa segurança soava como Blitz, tinha gosto de bacon e era bela, belíssima, como sua linda Chanel: um alívio.
Quero ser o primeiro a ler teu livro. Se é que um dia me escultas e resolves logo escrevê-lo.
ResponderExcluirMuito linda - em todo e em tudo - em (parte)cular.
Amo-te.
Danilo Freire.
ResponderExcluirFaço-me de forte,
Adapto-me ao novo,
Mas como ser forte,
Se por dentro é alvoroço?
Por fora tem porte,
Por dentro choroso,
Só quero a sorte,
do teu novo norte,
Se apoiar em meu ombro.
Bisou!
Bandeirão do Sta. Cruz.
Tinha que ser torcedor do Santa Cruz mesmo. kkkkkkkkk
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