domingo, agosto 02, 2009

ensimesmar

Era em si mesma um mar, cheio de vida, de algas, de água e sal. Sal para salgar os dias, tirá-los da mesmice e fazê-los terem mais gosto e também mais gostar do mundo e das pessoas. Em si mesma(r) todo dia era seu ofício.
Quando estava consigo mesma, podia ser mar sem se preocupar em permitir aos outros a compreensão. Consigo, não precisava ser rasa e límpida, podia esconder mistérios, sereias, naufrágios e dúvidas. Por isso, gostava de estar assim, fechada nela mesma, e, desse modo, sentir-se grande, sem fim. Sentia-se também fluida e capaz de a qualquer compartimento se adaptar, ganhando-lhe a forma, ainda que sempre transbordando-o por ali não caber na sua dimensão imensurável.
Ensimesmar tornou-se, então, uma droga, vício diário, porém secreto. Atrás da porta, longe de quem quer que fosse, virava mar e inundava de pensamentos largos o ambiente, banhava-se nas suas próprias águas, lavando o rosto para sair à rua com novo ânimo, revigorada em si.

Um comentário:

  1. domingo é um ótimo dia para ensimesmar. Apesar de que eu preciso enmimesmar todos os dias. É um vício, sim, você está coberta de razão. É necessário. O contrário disso me cansa. É o teatro que não acaba nunca. "podia ser mar sem se preocupar em permitir aos outros a compreensão. Consigo, não precisava ser rasa e límpida, podia esconder mistérios, sereias, naufrágios e dúvidas"

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