sexta-feira, março 11, 2011

um pedaço seu

Deixe um pedaço seu
num recado, desenho, num retrato
ou eu
eu nem sei.
Deixe um pedaço seu
numa frase, num abraço, fraise, que me cale
e eu
eu já sei.




Eu dançaria, por horas a fio, no diálogo quase nervoso, asfixiante como o ar que é puro demais. Mais uma vez, sem rodeios ou disfarce, eu beberia de você, com uma sede leve e constante, pousando em ti meu olhar ansioso, como quem tivesse medo de ver a fonte se esgotar. 
Ainda novamente eu escutaria uma música marcante, deparando-me com você, reflexo meu, sentindo igual, dividindo comigo o que tínhamos de mais precioso: nossas ideias secretas, pensamentos íntimos e sonhos, tudo espécies da loucura que nos assola, humanos que somos, eternos que somos.
Eu te veria transbordar mais, derramando tuas águas no papel, criando formas, traduzindo sentimentos, traçando irrealidades a ponto de fazê-las concretas em preto e branco. Eu te contemplaria como o mar de águas violentas e sem fim, surpreendendo-me com a calma que nasce do caos, que tuas mãos reduziriam a contornos negros. Eu ouviria, com contentamento, tua concretude inventada, teus planos mitológicos, tuas explicações do mundo sem pensar em discordar e já discordando sem pensar.
Eu esperaria um pedaço seu, deixando um meu, sabendo que mais à frente nos encontraremos. Por estradas diversas, chegaremos, fatalmente, a um lugar em comum para o próximo abraço apertado.