Bem de manhã
quero uma filosofia vã
vã filosofia
para começar o dia
e para, enfim, também
terminá-lo bem.
Acordou cedo, colocou Clarice Lispector na bolsa, na vontade de uma enxurrada de fluxos de consciência ao longo daquele dia cheio de hábito, repetitivo, de rotina abafada.
Separou um papel e uma caneta para qualquer urgência, na certeza de que tê-los à disposição era como um kit para sobrevivência em uma ilha deserta. "Pois é, nunca se sabe."
Um chocolate para adoçar o amargo, um sachê de sal. "Engraçado... Ninguém desconfia o quão útil isso pode ser e, no entanto, finda que é."
Um guardanapo, um grampo de cabelos."De repente, surge uma porta, um cofre, não?"
Uma vela, um esmalte, junto com um batom de cor bem análoga: vermelho-sangue. No mesmo amontoado, uma anágua, um dicionário, um vidro pequeno de perfume. "Às vezes, este aroma me põe tonta. Será normal?"
Um potinho de azul-de-metileno, uma folha seca de gengibre, uma agulha de crochê. "Se me falta o que fazer... Tempo não é para que se perca."
Um barbante, um prego e uma fita adesiva perto do fim. "Prefiro a dupla-face... Parece mais comigo, digo, assim, em termos de personalidade."
Um suvenir que sua tia lhe trouxe do Rio de Janeiro, três bolinhas de gude. "São nostálgicas de tão verdes (ou serão azuis?)."
Já na soleira da porta, pronta para sair de casa, algo a impede: "Ah! E as chaves? Sabia que estava a esquecer alguma coisa!"
bolsa de mulher!
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