sexta-feira, fevereiro 05, 2010

as bolachas

- A vida tem sido difícil.
- Sim...
- Ando meio desenganado.
- Também pudera.
- Estou certo que inclusive as crônicas diminuíram de tamanho. Nem os escritores tem mais tempo. E olhe que tempo nunca lhes faltou em outras épocas.
- Sim. E os pacotes de bolachas também.
- Como?
- Diminuíram.
- Tem razão.
- Grande diálogo, ham? Tem algo de moderno, de tempo apertado.
- De pacote de bolachas.

Eu poderia lhe dizer que não pegue esse avião,
que não perca a sessão
de um céu feito cinema,
que não entre nesse esquema
de trocar teu futebol por um empreguinho à toa,
quando a água está tão boa 
e o mar é bem ali.
Poderia lhe pedir
que não corra,
que não morra,
que não deixe de falar,
de sonhar
sem chão,
de cantar no chuveiro,
que não pense não,
nem demais nem tão ligeiro,
que não coma tão depressa,
que não esqueça tua promessa
de ser um ser humano.
Mas Marte, Urano
estão de nós distantes
e tu, porque humano,
tens fome embora cantes.

3 comentários:

  1. bela análise da condição humana (espiritual x material). realmente, a modernidade nos tem feito perder cada vez mais nossa dimensão espiritual, fazendo preponderar nossas necessidades materiais e, assim, perdemos nosso equilíbrio. é fato.

    ResponderExcluir
  2. O humor do primeiro texto foi muito bom.
    Agora que vi que você faz letras. Se não for muita intromissão de minha parta, gostaria de saber o que exatamente você estuda?

    ResponderExcluir
  3. "tens fome embora cantes". Adoro certos jogos que vc faz, que não apenas jogos, mas têm um sentido profundo, pelo menos pra mim. Aqui (como dizem os mineiros), você faz Letras? Porque letras eu sei que você faz...

    ResponderExcluir