Em uma noite das mais quentes de um verão morno, estava deitada à cama, de olhos cerrados, experimentando as carícias de uma brisa tímida. A casa era um silêncio de sombras longas e as pálpebras pesavam como se houvesse uma venda sobre elas.
Nada em volta: nenhuma companhia, nenhum barulho. O ar seco, noite adentro, invadia-lhe os pulmões, inebriando-a num sentimento sem definição. Não se parecia com o aperto da saudade, que tantas vezes lhe contraiu o peito. Não chegava perto de ser tristeza, pois nada tinha de aperto na alma, aquele aperto apto a extrair lágrimas dos olhos. Não se tratava também de medo, que mais parece um aperto nas entranhas, revirando e arrancando as vísceras. Tampouco era felicidade, aquela que nos estampa um sorriso, dentes à mostra, apertando-nos os olhos, tornando-os pequeninos, perdidos na face.
As cortinas, nesse intervalo, dançavam, no quarto negro, um balé sem holofotes. Subiam e desciam numa sincronia magistral e o vento, agora, cantava uma canção branda, cheia de singeleza.
O sentimento traduzido num aperto sem nome lhe acompanhava a respiração, permanecia no ar com a quietude de quem vela o sono de uma criança ao berço. Tratava-se da magia dos sentimentos anônimos, que retirava o chão, a cama, e fazia todo o corpo levitar na penumbra, suspenso em um aperto que agarrava cada poro, erguia cada célula do corpo até que fosse a luz da alcova acesa.
vi teu blog no perfil de um amigo. adorei o texto. parabéns!
ResponderExcluirExcelente.
ResponderExcluirProntofalei!
hahaha
bjs,
Rachel