Em uma tarde de feriado é bem possível perceber que o mundo está repleto de homônimos. Iguais no nome e diferentes em todo o resto. Às vezes, apenas o som é o mesmo, noutras vezes inclusive a grafia é idêntica e, naturalmente, pode isto causar muita confusão. Uma "casa", simples moradia, pode virar um "Casa com ele amanhã e vai morar no Chile! Eu dou todo o apoio". Bem assim, as pessoas podem ter o mesmo nome e, no entanto, não guardarem entre si qualquer semelhança. Foi esta última espécie de homônimo a que me marcou.
Pensando a este respeito, também me ocorreu que os fatos, os esta tarde vividos, poderiam ter muitos homônimos se fossem eles transformados, cada um, em apenas uma palavra.
O seu abraço quente, sob o sol escaldante, poderia ser chamado aconchego. Sua conversa solta, ganhando o vento e a rua, descendo a janela, dançando no ar, poderia ter o nome liberdade. Os mapas e fotos que me mostrastes, de uma época que não foi presenciada por qualquer pessoa a este tempo vivente, enquanto ouvíamos seus estranhos rocks e alguma música clássica, poderiam ser denominados pedaços de novidade ou fragmentos de incompreensão. Sua surpresa ao descobrir uma pequeníssima casa de um inseto qualquer, feita de barro, seu modo de desmanchá-la nos dedos e de atribuir ao desconhecido animal o título de engenheiro, eu chamaria encantamento. E sua barba me arranhando o rosto e pescoço, em uma despedida apressada não teria como homônimo a aspereza, jamais, mas a delicadeza de uma saudade que se mata aos poucos.
Este é o mundo dos homônimos, dos vocábulos idênticos. Um mundo que me faz ter a certeza de que ninguém que tenha teu nome conseguiria a ti se igualar.