"E as máscaras? Eu tinha medo, mas era um medo vital e necessário porque vinha de encontro à minha mais profunda suspeita de que o rosto humano também fosse uma espécie de máscara."
Clarice Lispector em Felicidade Clandestina
De fato, não é que haja uma máscara que esconde teu rosto. A máscara não é um objeto interposto entre tua face e a minha. Não. O teu rosto é a máscara mesma.
Quero, com isso, dizer que não tens uma cara, assim, de carne e osso, não tens. É por isso que não podes dar a cara à tapa, não podes arriscar. É pelo mesmo motivo que não posso chamar-te cara de pau, indignada com os atos teus que desaprovo.
Se não tens cara, que poderia eu esperar? Vergonha na cara? Naturalmente que não. Sem rosto, não terias onde pôr a tal vergonha.
Por mais triste, só possuis este disfarce que te veste a face que não tens. Não posso, assim, dizer que escondes, atrás de todo esse papel machê, uma real identidade. Compadeço-me porque sequer podes fingir ser quem não és.
O carnaval passa e, enquanto todos guardamos fantasias, plumas e confetes para o outro ano, tu permaneces mascarado, alongando para sempre tua folia solitária.
De cá, continuo compenetrada na tua máscara, sentindo por jamais te poder conhecer a fundo. É que, se quem vê cara não vê coração, imagine-se, então, quem nem cara vê.