quarta-feira, janeiro 12, 2011

conversa de mãos dadas

- E então? O que eu te disse naquela ocasião?
- Muitas coisas... Tantas que seria imposível dizê-las todas.
-Mas eu não falei contigo por dias.
- Você dizia sem falar.


Há momentos em que as palavras atrapalham. Talvez por isso, naquela altura da vida, já se faziam elas desnecessárias e até incovenientes. Os olhos míopes enxergavam muito além do que podia a linguagem descrever e os rostos gastos pelo tempo faziam-se expressivos como nenhuma frase. Era a convivência de uma vida conjunta e sólida, era o amor.
As inconstâncias dela não o surpreendiam, ao passo que as manias de velho, que ele demonstrava desde seus vinte e alguns anos, tampouco eram novidades que a encontrassem desprevinida. Adaptaram-se um ao outro com a incrível desenvoltura de quem confia no amor não obstante os percalços, tendo-o como decorrência direta da emoção e da razão, numa mesma medida: perfeitamente bela e matematicamente precisa, por não serem a estética e o cálculo excludentes, mas, antes, complementares.
O equilíbrio pleno não era, por certo, absoluto, como não poderia ser, imperfeitas que são todas as coisas. No entanto, foi nas imperfeições e confiança mútuas que encontraram o sentido de tentarem a felicidade, encoberta por falhas humanas e defeitos dos quais nenhum mortal escapa.
Naquele dia, como em tantos outros diálogos de tato em que as mãos enlaçadas conversavam entre si enquanto os olhos de ambos se conservavam distantes, perdidos na beleza do amor ido e do vindouro, ela ouviu, sem que ele precisasse dizer, o quanto era grato por tudo, enquanto as mãos dela lhe falaram que, com ele, fora e seria a mulher mais feliz.
A conversa de mãos ecoava no horizonte, preenchia os corações do casal. Estavam tão convictos do vivido que nada lhes parecia tão certo quanto tudo que lhes havia ocorrido, incluso os erros que os punham um diante do outro, frágeis e desnudos. Mudos.

2 comentários:

  1. Ah Camila, bacana o teu blog!!
    Serei frequentadora!
    =D

    Beijo!

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  2. Camila! Nunca mais tinha lido seu blog, lembrei-me hoje dele e, claro, da leitura obtive mais uma grata surpresa. Beijos, Rachel

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