Ya pasó
Ya he dejado que se empañe
La ilusión de que vivir es indoloro
Que raro que seas tú
Quien me acompañe, soledad,
A mí, que nunca supe bien
Como estar solo
Jorge Drexler
Jorge Drexler
Sentei-me e pedi café acompanhado dos biscoitos chamados "biscoitinhos ingleses", ainda que eu não corcordasse com o nome deles. Comi e bebi pensativa, esquivando-me corajosamente dos olhares, fossem piedosos, interessados ou simplesmente curiosos. Categoricamente, ignorei todos, detida na minha xícara, que se mostrava silenciosa e sóbria como a mulher que queria me tornar.
Havia assumido, com paixão, a condição que me era de direito: a de ser só. Fi-lo sem lamentos nem dor, agarrada à certeza de que nisso residia a plenitude e a serenidade sonhada por tantos, mas abraçada apenas pelos fortes, que já não lutam, cega e estupidamente, contra a solidão.
Era preciso amar a si na medida exata. Nem mais, nem menos. A receita era mais perfeita que a dos biscoitinhos ingleses e eu estava disposta a prová-la.
Não bastava o amor próprio suficiente para se suportar. Fazia-se imprescindível, antes, gostar de estar consigo, mas na proporção adequada para se evitar um alheamento do mundo ou uma migração ao universo dos espelhos, onde tudo que se vê é reflexo e o reflexo do reflexo até que o ser se torna apenas um reflexo doente e delirante.
Equilíbrio era a palavra que combinava imensamente com aquele café e casava com os biscoitos. Tudo isso, por fim, afrontava os olhares, desafiando aqueles que não admitem a solidão menos por ela mesma que por jamais haverem tido a ousadia de experimentá-la.
Pedi outro café, pois melhor companhia eu nunca havia encontrado. Alinhei os cabelos, olhando-me em um dos espelhos que ali estavam dispostos por toda parte para causar a impressão de maior espaço. Também eu me senti maior e a rua, assim como os tipos apressados na calçada, já pareciam tão pequenos.