Sempre fui simpática ao ato de economizar palavras. Utilizava-as com cautela, temendo que se gastassem, como a sola de um sapato ou um disco que viesse a ser arranhado pela agulha da vitrola. Mas não. Imaturidade minha quando pensava tanto antes de soltar dois ou três conjuntos de letras, cheia de cuidado, num imenso medo de afundá-las num mar de desentendimento e perdê-las para sempre.
Mais tarde descobri que poupar palavras é, no fundo, uma grande bobagem. Não lamentava mais seu uso e jamais me arrependia de tê-las, um dia, posto à luz. Afinal, não passam de algumas letras e a vida se mantém de outros fatores cuja importância ultrapassa estes tais significantes gráficos, de modo que economia, definitivamente, não se aplica às palavras.
Não bastasse isso, elas se reproduzem de uma maneira inacreditável e, quanto mais usadas, mais apuradas ficam, mais maduras se tornam, mais cheias de significado se desenham, enfim.
Vejo, assim, que fiz bem em não haver tido piedade em colocar palavras em todo lugar, em pregá-las no teto, em pisá-las no chão, em haver cuspido algumas e lhes cuspido a cara. Queimei, ainda, outras tantas e rasguei várias. Amassei certas delas e arremessei ao lixo. Esbanjei, apostei-as no jogo e não tinham elas fim.
Fiz delas confetes no carnaval, soltando-as ao vento. Fiz delas almoço, comendo-as até a satisfação plena. Fiz delas pandeiro, dando cadência a tudo em volta.
O que se fala é para isso mesmo, só tem um destino: submeter-se a nosso gosto.
Por fim, tomei um bom punhado de palavras, transformei-as em quebra-cabeça e com elas brinquei até que o jogo ganhasse contornos de tédio.
Por fim, tomei um bom punhado de palavras, transformei-as em quebra-cabeça e com elas brinquei até que o jogo ganhasse contornos de tédio.